terça-feira, 10 de junho de 2008

O Tio Sam que você nunca viu - Artigo sobre o livro "A people`s History of the United States: 1942 - Present.



O Tio Sam que você nunca viu

Em “A Outra História dos Estados Unidos”, o historiador Howard Zinn revela uma grande potência manchada por seus pecados, preconceitos e fraquezas Waldir José Rampinelli Florianópolis

Nos arredores de Boston, em uma lápide no parque nacional, lê-se a inscrição: “Aqui jaz uma mulher índia, uma wampanoag, cuja família e tribo entregaram suas vidas e suas terras para que esta grande nação pudesse nascer e prosperar”. Muitos cidadãos americanos, gente decente e bem intencionada – diz Chomsky –, desfilam continuamente junto a esta tumba, lendo o epitáfio sem exibir a mínima reação, quando não um sentimento de satisfação pela homenagem prestada a esta pobre gente. Provavelmente não fariam o mesmo diante de um Auschwitz ou um Dachau, tanto que o Dia Anual de Lembrança do Holocausto é um evento nacional nos Estados Unidos. Sete grandes museus se espalham pelo país recordando o massacre nazista e nenhum sobre a escravidão capitalista. O genocídio dos nativos – cuja população girava em torno de 12 a 15 milhões de pessoas por volta de 1492 – se estendeu mais tarde aos negros, sem esquecer a opressão e a exploração da classe dominante aos brancos pobres, às mulheres e às crianças. No plano externo, com as guerras os Estados Unidos não apenas conquistaram 55% do território mexicano, como também se apoderaram de domínios e ilhas espanholas, obrigaram a França a vender a Luisiânia e impuseram, baseados em suas mais diversas doutrinas (Doutrina Monroe, Destino Manifesto), uma hegemonia sobre a América Latina. Deste modo, os Estados Unidos foram se expandindo e contando a sua história como uma grande saga e uma grande aventura de um grande povo .

O historiador Howard Zinn mostra em “A Outra História dos Estados Unidos”, ainda sem tradução para o Brasil, a que não é ensinada nas escolas e universidades, e tampouco escrita nos livros e revistas. “Se a história tem que ser criativa – para assim antecipar um possível futuro sem negar o passado – deveria, creio eu, se centrar nas novas possibilidades baseando-se no descobrimento dos fatos esquecidos do passado, nos quais, ainda que seja só em breves pinceladas, as pessoas mostraram uma capacidade para a resistência, para a unidade e, ocasionalmente, para a vitória.” Ao se referir à Declaração de Independência redigida por Thomas Jefferson e proclamada em 4 de julho de 1776, afirma que, embora ela enunciasse “que todos os homens são criados iguais, que seu Criador lhes dá certos direitos inalienáveis, entre outros o da Vida, o da Liberdade e o da Felicidade”, ocorreu, no entanto, que uma grande maioria dos americanos foi claramente excluída dessas conquistas, como os índios, os negros, os brancos pobres e as mulheres. A estes foram oferecidas as aventuras e as recompensas do serviço militar, para que lutassem por uma causa que talvez nunca sentiram como própria. Zinn fala da vitória final em 1781, em Yorktown, na Virginia, na qual os ingleses foram derrotados com a ajuda de um potente exército e frota francesa bem como dos marginalizados da sociedade.

Persiste até hoje nos Estados Unidos uma verdadeira mitologia em relação aos pais fundadores da pátria. Segundo Zinn, eles não buscavam o equilíbrio de poder, mas sim um mecanismo que desse o total controle à classe dominante da época. “O certo é que não queriam um equilíbrio igualitário entre escravos e patrões, entre os sem-terra e os latifundiários, entre os índios e os brancos”, escreveu. Os fundadores não levaram em conta as mulheres, que significavam a metade da população, mas sequer foram mencionadas na Declaração de Independência e estiveram ausentes da Constituição, sendo a parte invisível da nação.

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Duas guerras civis

A busca por uma sociedade mais justa foi intensa no final do século 19 nos Estados Unidos

A Guerra Civil ou da Secessão (1861-1865), apresentada como a da abolição da escravidão, teve um objetivo fundamental: o de transferir mais poder aos ricos do Norte, de modo especial aos monopólios. “Um governo assim”, afirma Zinn, “não aceitaria que fora uma revolta que pusera fim à escravidão. Só acabaria a escravidão em termos ditados pelos brancos, e somente quando o exigissem as necessidades políticas e econômicas da elite empresarial do Norte. Foi Abraham Lincoln quem combinou com perfeição as necessidades do empresariado, a ambição do novo Partido Republicano e a retórica do humanismo”. Libertos, os negros tiveram que se alistar no Exército e na Marinha. “Sem sua ajuda”, diz o historiador James McPherson, “o Norte não teria vencido a guerra da forma como o fez, e, talvez, simplesmente não a ganhasse”, menciona Zinn. Às vésperas da Guerra Civil, a escravidão já havia desaparecido em toda a América Latina, com exceção de Cuba (1886) e do Brasil (1888). Na década de 1870, quando os negros começaram a se organizar para exigir os direitos civis, a oligarquia branca do Sul usou de seu poder econômico preparando grupos racistas com práticas terroristas, como a Ku Klux Klan. “Aboliu-se a escravidão, porém, foi substituída por uma espécie de peonagem. Não se resolveu a posição dos negros na sociedade, de modo que, cem anos depois, eles não desfrutavam de todos os direitos que, ao parecer, a guerra lhes havia prometido." No centenário da independência (1876), uma “Declaração Negra da Independência” denunciou o Partido Republicano, que antes havia conclamado os votantes de cor a assumir uma posição política própria. A Declaração, entre outras coisas, dizia que o sistema atual “apresentou ao mundo o absurdo espetáculo de uma terrível guerra civil pela abolição da escravidão negra, enquanto a maioria da população branca (os brancos pobres) – aquela que criou a riqueza da nação – se vê obrigada a sofrer uma escravidão muito mais dolorida e humilhante”. O mais grave da guerra foi, talvez, o legado de ódio e amargura que sobreviveu à geração combatente, especialmente contra os negros. Quase cem anos depois, no começo de 1945, quando o Queen Mary zarpou carregado de soldados para a guerra na Europa, os negros foram postos na parte inferior do navio, perto das máquinas, enquanto os brancos respiravam o ar puro na escotilha.

A outra guerra civil é o termo utilizado por Zinn para analisar o incremento da luta de classes nos Estados Unidos ao longo de todo o século 19, ausente dos livros de história. Com a industrialização, aparecem os operários e o conflito capital versus trabalho.

As greves não são apenas por salário, mas também por redução de jornada laboral e direito à sindicalização. Em 1844, quatro anos antes do Manifesto Comunista, saiu no "Awl" o seguinte texto: “A divisão da sociedade entre as classes produtivas e as não-produtivas e a distribuição desigual do valor entre elas nos leva em seguida a outra distinção: a do capital e mão-de-obra (...) a mão-de-obra agora se converte em mercadoria (...) o capital e a mão-de-obra estão enfrentados .”

Algumas categorias, como as feministas, passaram a fazer greves exigindo não apenas salário igual para a mesma tarefa realizada, como também o fim da opressão sexual. Muitas delas se aliaram aos negros, enquanto alguns sindicatos de trabalhadores brancos exigiam que os trabalhadores de cor criassem os próprios na luta pela desigualdade racial e de gênero.

A busca por uma sociedade mais justa – vista como socialista – foi intensa no final do século 19 e principalmente no século 20 dentro dos Estados Unidos. Escritores famosos, como Upton Sinclair, Jack London, Theodore Dreiser, Frank Norris e outros, defendiam publicamente o socialismo, ao mesmo tempo em que atacavam violentamente o capitalismo. Parte dos trabalhadores, dando-se conta de que a raiz de sua miséria estava no sistema capitalista, começou a trabalhar por um novo tipo de sindicato. Em junho de 1905, na cidade de Chicago, cerca de duzentos socialistas, anarquistas e sindicalistas de todas as partes do país fundaram o Industrial Workers of the World (IWW), que liderou greves, marchas, concentrações, grupos de estudos e publicações, sendo sistematicamente atacado e perseguido pelo Estado. As mulheres socialistas, que formavam parte do movimento feminista, fizeram uma grande campanha pelo sufrágio universal e pela igualdade no casamento e na vida sexual. Margaret Sanger, no seu livro “Woman and the New Race”, mencionado por Zinn, afirmava que “nenhuma mulher pode considerar-se livre se não possui e controla seu próprio corpo. Nenhuma mulher pode se considerar livre até que possa escolher conscientemente se será mãe ou não”.

Embora as mulheres tenham conseguido o direito ao voto, e apenas em 1920, após a aprovação da 19ª Emenda Constitucional, muitas delas, como Emma Goldman, sabiam que apenas o sufrágio universal não as ajudaria em sua emancipação. Era fundamental continuar a luta – dizia Goldman – reafirmando sua personalidade, tendo direito sobre seu corpo, negando-se a ter filhos a não ser que os deseje, recusando-se a ser uma empregada de Deus, do Estado, da sociedade, de seu marido, de sua família, enfim, fazendo sua vida mais simples, porém, mais rica e profunda. Somente isso, e não o voto, libertará a mulher.

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O nacionalismo

O governo protegeu a indústria nacional de suas concorrentes estrangeiras, facilitou o surgimento dos monopólios, buscou mercados cativos para compra de matérias-primas e vendas de produtos manufaturados e lançou mão, principalmente no final do século 19 e início do 20, de estratégias como o panamericanismo, o big tick, a diplomacia do dólar e a boa vizinhança para exercer sua dominação sobre a América Latina. Além disso, serviu-se do nacionalismo para se fortalecer diante de problemas internos e externos. O historiador Richard Hofstadter, no seu livro “The American Political Tradition”, pesquisou os principais líderes nacionais, começando por Jefferson e Jackson, passando por Hoover e chegando a Theodore e Franklin Roosevelt; analisou republicanos, democratas, liberais e conservadores, chegando à conclusão de que “o alcance de visão (...) dos principais partidos sempre foi determinado pelos horizontes da propriedade e da empresa (...) pelas virtudes econômicas da cultura capitalista (...) Essa cultura tem sido intensamente nacionalista”.

As reformas de Roosevelt para salvar o capitalismo da grande crise foram importantes, mas não fundamentais. Na realidade, foi a Segunda Guerra Mundial que debilitou a velha militância trabalhista dos anos 1930, já que o conflito passou a gerar milhões de novos empregos com salários mais altos. O New Deal só havia reduzido o desemprego de 13 para 9 milhões de pessoas. Além disso, a guerra aumentou o patriotismo e a união de todas as classes para derrotar os inimigos externos, enfraquecendo assim a luta contra os monopólios e as greves por melhorias sociais. Em 1948, o Tratado de Ajuda Externa – conhecido como Plano Marshall – exigia dos que aceitassem a “ajuda” que comprassem produtos manufaturados dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que obrigavam as nações européias e suas colônias a abrirem seus mercados aos investidores americanos sobre uma base de igualdade.

Zinn termina seu livro mostrando que o Vietnã foi a primeira grande derrota do império global americano no pós-Segunda Guerra Mundial, o que se deveu à luta dos camponeses revolucionários e ao movimento de protestos dentro dos Estados Unidos. Analisa os novos movimentos de mulheres, negros, índios e carcereiros nos anos 1960 e 1970. Mostra como Watergate, com a saída de Nixon, deixou intacto o sistema, tanto que as multinacionais atuaram na queda de vários governos, principalmente na América Latina. Comenta o trabalho da Agência Central de Inteligência e da Comissão Trilateral, esta criada para favorecer a união entre Japão, Europa Ocidental e Estados Unidos na luta, não contra um comunismo monolítico, mas sim contra os movimentos revolucionários do Terceiro Mundo que questionavam o sistema capitalista. Não deixa de falar de Carter-Reagan-Bush e o consenso bipartidista.

Sem dúvida, trata-se de um grande livro para conhecer uma história que sempre nos foi contada de outra maneira. A obra foi escrita em poucos anos, mas o seu autor conta com mais de vinte de pesquisa e ensino e tantos outros de participação em movimentos sociais. Só assim se consegue escrever a outra história dos Estados Unidos.

Waldir José Rampinelli, professor de história da América na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com mestrado em Estudos Latino-Americanos pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e doutorado pela Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC/SP). Autor, entre outros, do livro “As Duas Faces da Moeda – as Contribuições de JK e Gilberto Freyre ao Colonialismo Português”, Editora da UFSC, 2004.

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Fonte: http://www.an.com.br/anexo/2008/fev/10/0ide.jsp

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Entrevista com Howard Zinn no jornal Valor Econômico


"A Guerra é Imoral e Ilegal"


Entrevista com Howard Zinn publicada no jornal Valor Econômico
Caderno Eu & Fim de Semana, dia 17 de março de 2006


Um dos maiores ícones de pensamento da esquerda norte-americana lança pela primeira vez um livro no Brasil: “Você Não Pode Ser Neutro Num Trem em Movimento: Uma História Pessoal dos Nossos Tempos” (L-Dopa, 263 páginas, R$ 36). O professor da Universidade de Boston lança ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, “Iraque: A Lógica da Retirada”, emulando “Vietnã: A Lógica da Retirada”, bíblia do movimento pacifista, escrito por Zinn em 1967. Na entrevista a seguir ele critica a invasão do Iraque, que completa três anos no domingo, e diz que acredita em uma saída pacifista para a guerra.

-É possível comparar o clamor pela retirada de tropas do Vietnã e, agora, do Iraque?

-Eu vejo claramente a história se repetindo. Os americanos foram mais uma vez levados à guerra por conta das mentiras de Washington. Mas o povo está despertando gradualmente para o que aconteceu. Veja o crescimento fantástico do movimento pacifista. As pesquisas mostram que já há um entendimento de que a invasão do Iraque também é, essencialmente, um ato de agressão ilegal e imoral.

-Mas o que aconteceu com a esquerda americana? O filósofo francês Bernard-Henri Lévy diz que o maior problema da América não são os neo-conservadores e sim a indigência da esquerda...

-O Bernard está completamente equivocado! Aliás, ele tem apenas um conhecimento superficial sobre o que está acontecendo nos EUA. Existem muito mais movimentos progressistas espalhados pelo país hoje do que nos anos 60. O problema é que as ações mais localizadas não ganham destaque na imprensa.

-O senhor pode me dar um exemplo concreto desta omissão?

-Na semana passada 300 mil pessoas foram às ruas de Chicago se manifestar a favor dos imigrantes. A cobertura foi pífia. Pensemos no episódio Cindy Sheehan. Quando ela decidiu acampar na estrada próxima ao sítio de Bush, no Texas, centenas de eventos foram organizados em para apóia-la e pouco se falou a respeito. A esquerda americana não está unida em um grande movimento social, algo muito difícil em um país tão grande e com população tão espaçada. Mas ela está, sim, muito viva!

-O senhor acha que Sheehan esteve um passo à frente da imprensa americana, ao expor de maneira clara o desejo da maioria da população de uma retirada das tropas do Oriente Médio?

-Sim, mas a imprensa americana se portou de maneira vergonhosa desde os preparativos para a invasão até os dias de hoje. Mas eu não me surpreendo com isso. Historicamente, os grandes meios de comunicação americanos sempre se portaram de modo covarde quando se tratou de qualquer guerra comandada por Washington. Demorou mais de dois anos para que o primeiro jornal pedisse a retirada dos ‘marines’ do Sudeste Asiático. A imprensa ainda funciona como mera seguidora de tendências, ela não almeja participar da liderança de nenhum movimento social, um equívoco imperdoável. Ela só passou a condenar a guerra quando a opinião pública já tinha sido conquistada.

-Mas o senhor não concorda que os escândalos de Abu Ghraib e Guanánamo, envolvendo a tortura brutal de prisioneiros, chocou os americanos com uma intensidade menor do que a esperada?

-O problema aqui é mais grave. Muito por conta do trabalho mal-feito, incompleto, e dúbio da grande imprensa, o grande público entendeu a tortura como exceção e não praxe nas ações militares americanas em tempo de guerra. Mas a verdade é que é assim que nós tratamos nossos prisioneiros – torturando-os.

-O senhor escreve que o Império Americano está encontrando suas fronteiras definitivas no Oriente Médio e que não acredita em um aumento de influência de Washington na América Latina. O que o faz pensar desta maneira?

-A supremacia dos EUA na América Latina está próxima de seu fim. Ela ainda sobrevive em situações específicas, como na Colômbia, mas as correntes de independência nunca foram tão fortes. Pense na Venezuela e na Bolívia. Eu não vejo grande descontentamento popular com o Chávez. Aliás, ele parece ser muito querido na Venezuela. Ainda é muito cedo para falarmos sobre Morales, mas há uma semelhança importante: o fato de que o povo acredita ter tomado as rédeas do Estado. Eu acho que esta é a tendência que deve prevalecer na America Latina por um bom tempo.

-O senhor também escreve que os ataques às torres gêmeas, em 2001, marcam o início da dissolução do último império contemporâneo. Mas intelectuais, como o professor Samuel Huntington, enxergam um cenário distinto, com o atentado a Nova Iorque inaugurando a ‘batalha das civilizações’, opondo o mundo cristão a estados islâmicos fundamentalistas...

-Ora, mas o Huntington tem uma visão absolutamente romântica do mundo ocidental! A história dos países que criaram a chamada ‘civilização ocidental’ é uma história de escravidão, imperialismo e capitalismo selvagem, não a do liberalismo que ele tanto valoriza. Existem elementos progressistas e profundamente atrasados nas duas ‘civilizações’. O que é mais perigoso na tese de Huntington é que ela coloca um grupo de pessoas que professa determinada fé contra outros de uma forma absolutamente irracional. É uma tese irracional.

-O senhor tinha 20 anos quando lutou na Segunda Guerra. O senhor acredita que os EUA, um dia, serão um país pacifista?

-Sejamos francos: os EUA vive em estado contínuo de guerra desde Pearl Harbor. E meu país é o mais agressivo, o mais beligerante do globo. Eu acredito piamente que um dia os americanos vão se dar conta da imoralidade e da futilidade da guerra, mas seria de uma tolice imensa eu arriscar dizer quando isso vai acontecer. Aos 83 anos, sou consciente de que o futuro é imprevisível, que ele depende exclusivamente da ação do homem, e que nós ainda não mobilizamos esta energia para criar um mundo melhor.
(Eduardo Graça, de Nova York, para o Valor)